A(s)
Verdadeira(s) Estória(s) de
Adão e Eva
(Versão 1.01)
-
Guião -
Francisco
Suarez
Parte I Parte II Parte III Parte IV Parte V Parte VI
Personagens
(das Partes I e II): -
Adão (Herman José) -
Prof. Herman José Saraiva (Herman José) - Diácono Remédios (Herman José) -
Eva (Maria Rueff?) -
Serpente Verde (Ana Bola) - Serpente Vermelha (Ana Bola)
-
Narrador/Repórter (Cândido Mota)
Fade-in. Ecrã negro, com música de fundo de cariz épico, onde surgem várias frases, que o narrador se encarrega de ler, por entre rufar de tambores. HERMAN SIC Narrador: O Herman SIC orgulha-se de apresentar, em rigoroso exclusivo mundial... A(S)
VERDADEIRA(S) ESTÓRIA(S) DE ADÃO E EVA Narrador: ...A estória verdadeira, escondida desde o início dos tempos, e até à mais anos do que leva o Benfica sem ganhar o Campeonato Nacional de Futebol. Finalmente a verdade é trazida á Luz,... (pequena pausa) ...ao contrário da Taça, que desde o século passado não entra nesse mesmo Estádio. (esta frase é dita num volume mais baixo e de um modo mais apressado) Narrador: ...Com a participação especial...
Prof. HERMAN JOSÉ SARAIVA
Narrador: do nosso grande estoriador Prof. Herman José Saraiva, com a sua visão límpida e esclarecedora destes acontecimentos fulcrais para a Estória da Humanidade.
Pausa de 2 a 3 segundos, seguida do aparecimento da primeira imagem do sketck. Aparece
o Prof.
Herman José Saraiva na sua pose habitual, gesticulando e com todos os
outros seus tiques.
Prof.
Herman
|
Parte
II
|
Prof.
Herman está a concluir a sua intervenção quando é violentamente
empurrado para fora do enquadramento por uns braços desconhecidos (por
enquanto).
Entra
com sua habitual "subtileza" o Diácono Remédios (o dono dos braços!).
Diácono
Remédios:
Meus
amigos, tsss... mas o que é isto? Mas que grupo de mentiras vos estão
para aqui a contar?
Vê-se
um braço do Prof. Herman a tentar levantar-se, e o Diácono Remédios dá
disfarçadamente um grande pontapé no Prof. Herman, que o deixa KO.
(durante
todo este enquadramento sempre que o “narrador” aparece apenas o
vemos da cintura para cima, de modo a que se possa fazer esta
“troca” de personagens com o mesmo actor – Prof. Herman por Diácono)
Diácono
Remédios:
Não
vos deixeis enganar! Não foi assim que as coisas se passaram. Não
havia necessidade. Quereis que vos diga como é que aconteceu realmente,
quereis? Eu vou vos contar como foi.
Continuamos
com o mesmo enquadramento, retrocedendo (o background) até à altura em que Adão se
esconde da Eva, junto à macieira.
Diácono
Remédios:
Estava
Adão a jogar às escondidas com Eva, quando de repente dá de caras com
uma maldosa serpente.
Surge
no enquadramento uma Serpente Vermelha, de aspecto manhoso e diabólico
(apenas
muda a cor do fato da serpente, que poderá ter uma foice e um martelo
visível).
Logo
de seguida surge o Diácono na imagem.
Diácono
Remédios:
E
sim, meus amigos, tsss... Era uma serpente com.. comu... com... comu
...ista. cof Cof (engasga-se) Era uma serpente vermelha.
Estes
odiosos seres, e não estou a falar só das serpentes, que comem
criancinhas ao pequeno almoço.
O
Diácono retira-se.
A
cena da Parte I repete-se, mas com as adaptações que a “verdade”
do Diácono requer (sobretudo ao nível da entoação do texto, etc).
Estás
a vê-la? Boa, não é? Está mesmo madura! Dá mesmo vontade de
trincar. Deve ser bem apetitosa.
Mas
não posso... é proibido.
Claro
que podes. Ninguém vai notar. E está-se mesmo a ver que tu a queres.
Não
me apetece. Comi há bocadinho.
Não
estou a falar da maçã. Vá lá. Que esperas? Pega nela e acaba de uma
vez com essa indecisão. Um homem tem as suas necessidades.
Não
posso.
Vá
lá!! !!! Se não comes, morres! Come-a!
Morro? Mas ninguém me tinha dito nada!!?
Tás
a ver?! Tu não sabes nada! Ainda és mais estúpido do que pareces.
Acredita no que eu te digo. Primeiro começas por te sentir fraco, uma
fraqueza nas pernas...
Adão:
Hum,
realmente sinto por aqui uma sensação esquisita.
Vá
lá!!! Eu não conto a ninguém. Até eu a comia, mas prefiro uns belos
ratinhos bem novinhos e tenrinhos!!
Adão:
Que
horror, como és capaz disso?
Serpente
Vermelha:
Mas
que pensavas que as serpentes vermelhas comiam? Comigo quanto mais
novinhos, melhor!
Reaparece
o Diácono Remédios na imagem, com olhar triunfal e excitado, de quem
conseguiu arrancar a maior confissão do mundo a um comunista.
Diácono
Remédios:
Vêem?
Vêem? Que vos tenho dito eu? Eu sempre vos disse que os com... comu..
vermelhos comiam criancinhas ao pequeno almoço.
O
Diácono retira-se novamente (esfuziante) e a acção continua.
Adão:
Mas...
não tens vergonha de ser assim? (horrorizado)
Serpente
Vermelha:
Cala-te
com isso, e faz mas é o que te digo. Pega nela, leva-a para trás
daqueles arbustos e come-a duma vez. E se estás assim com tantos
problemas com isso, eu nem olho!!! Ou queres morrer?
Adão decide-se finalmente, e muito contra vontade e ainda indeciso, vai até junto da Eva, pega nela, hesita mais uma vez...
Serpente
Vermelha:
Tás à espera de quê? Força! (faz um olhar bem libidinoso)
...e leva-a para trás dos arbustos, onde logo a
seguir se vêm pedaços de roupa a voar seguidos de uns gemidos
estranhos, mas que terminam logo de seguida, indo os dois de seguida
embora (mas podem continuar no enquadramento, enquanto juntam uns
trapitos e os vemos a ser expulsos do Paraíso).
A
Serpente fica com um olhar diabólico e solta uma sinistra gargalhada.
(pode começar a cantar uma música de cariz comunista ou revolucionário).
O
Diácono Remédios aparece novamente com o típico ar paternalista para
a conclusão.
Diácono
Remédios:
Meus
amigos, vistes? A culpa foi toda dos com... dos comum... dos vermelhos.
São eles os culpados de tudo. E tudo só por 2 segundos de prazer! Tsss. Agora ide. Ide e pensai nisto. E cuidado com as.... serpentes. Elas são muito perigosas.
Parte
III
|
Nota
do autor relativa a Parte III: Nesta parte reside talvez o mais
hilariante do guião. No entanto, quando lhe é feita uma leitura
desatenta, esta Parte III aparenta uma grande complexidade, e parece
impossível de realizar em televisão. Tal não é verdade, como
julgo ter demonstrado no texto do guião, em que descrevo com detalhe
alguns dos pormenores relativos à realização do mesmo. Tudo o que
ele contêm é facilmente conseguido apenas com recurso a uma pré-produção
cuidada, e sobretudo uma disciplina férrea no planeamento das filmagens
das cenas, que têm de ter uma determinada sequência, que são
justapostas umas sobre as outras, que depois vos
posso explicitar com todo o pormenor (não são necessários mais
meios tecnológicos do que os habitualmente utilizados!). Mais uma vez, só a grande
capacidade e versatilidade do Herman José pode fazer funcionar o sketch,
em especial a Parte III, que é talvez um dos maiores desafios que ele
poderá ter como actor, mas com um resultado final altamente motivador, e
completamente delirante. |
Personagens (da Parte III):
-
Adão (Herman José)
-
Prof. Herman José Saraiva (Herman José)
- Diácono Remédios (Herman José)
-
José Esteves (Herman José)
-
Dr.
David Vaitembora (Herman José)
- Nelo (Herman José)
- Zé Chunga.(Herman José)
-
Eva (Maria Rueff??)
-
Narrador/Repórter (Cândido Mota??)
(Continuação
da cena anterior na Parte II)
Diácono
Remédios (a cerca de 4 metros, do lado direito, imagem só capta
personagem da cintura para cima), está a concluir a sua frase falado dos
vermelhos, quando se coloca repentinamente em frente à camara, do lado
esquerdo do enquadramento (a cerca de 1 metro) o grande comentador
desportivo José Esteves.
Esteves:
Mas
cum carago!!! Só falam de vermelho??! E antes era verde??!!!
O
Diacono Remédios, fica estático do lado direito do ecrã, sem saber o
que dizer, e sem querer acreditar no que está a acontecer. Começa
balbuciando e resmungando vocábulos meio incompreensíveis, mas de modo a
que o espectador se aperceba perfeitamente do que se trata.
Diácono Remédios:
Mas
que merd... é esta? Quem foi que deixou este grande filh...
Esteves:
Então
e o azul?! É sempre a mesma coisa! Estes murcões não se lembram do FCP
nem Norte, carago! E toda a gente sabe que há serpentes azuis! Já pra não
falar do Dragão, esse grande animal.
Em
background, a cerca de 4 metros, continua o Diácono Remédios a
barafustar, quando leva uma canelada (não visível, mas o berro dele é bem audível), e cai,
saindo do enquadramento. Passado 2 ou 3 segundos, reaparece muito
combalido e cambaleante, o Prof. Herman José Saraiva.
Esteves:
Esse
sim, é o rei dos animais. Não é o leão, que só ruge com a ajuda de
brasileiros recém-divorciados. E agora nem isso! Eheh!! (riso típico)
O
Prof. Herman aproxima-se, mas uma rasteira fá-lo “cair” em cima do
Esteves.
(Este
empurrão é importantíssimo, porque vai permitir uma mudança natural no
enquadramento, e deste modo vai-se conseguir uma interacção quase radiofónica
entre as personagens, muito do agrado de Herman José, já que de outro modo
seria muito difícil ou mesmo impossível conseguir o mesmo resultado final)
Projectado
pelo empurrão, como estava muito próximo da objectiva, Esteves
encosta-se à camara. (isto permite a alteração do enquadramento, que é
imprescindível para tudo o que se segue)
Quando se afasta violentamente
com a queda, a camara estremece um pouco e fica posicionada (sempre na
mesma posição até ao final desta zona do sketch):
-
a cerca de 1 metro do chão, apontando para cima cerca de 10 graus, de modo que apenas se
vislumbrem ligeiramente as cabeças dos personagens (a 5 metros de distância)
enquanto discutem, etc.
Começa
a discussão e um princípio de pancadaria, com as três personagens a
argumentar, gritar e resmungar nas suas maneiras peculiares.
Isto dura apenas 5 segundos, para de seguida toda esta acção prosseguir, mas com um volume mais baixo, assim que entra em cena a próxima personagem: o Dr. David Vaitembora, da Herman National Geografic (alter-ego de Dr. David Attenborough).
O Dr. David Vaitembora faz a sua entrada tradicional, empunhando e escondendo-se atrás de ramos de plantas, abanando-os freneticamente, enquanto olha para a camara, ligeiramente de cima para baixo, dada a posição da mesma. Fala em inglês, e aparecem as legendas da tradução.
Dr.
David Vaitembora:
Here
we are in Paradise, in the dawn of Mankind. In those days, men were
violent, and their behavior was irracional.
In our days, something like this that we are witnessing here is of
course, impossible. But in those immemorial times things were different.
Enquanto
fala, continua a ouvir-se a pancadaria, e vê-se atrás do ombro do Dr.
David Vaitembora pessoas a lutar (de costas e vestidas com as roupas
das personagens, chegam mesmo a empurrar o Dr.)
Dr.
David Vaitembora:
A
mere discussion about a snake could engage furious fights that make no
sense whatsoever to us. And maybe the most ridiculous of all: snakes
don’t even speak. They only bite, and usually prefer to eat small
animals…
Diácono
Remédios ouve, e a custo aproxima-se da camara e diz uma só frase, sendo
puxado logo de seguida novamente para a pancadaria.
Diácono
Remédios:
Vedes?!!
Vedes? Que vos digo eu?!! Os comu... comun...
Eles comem.. criancinh.... (n termina frase)
Diácono
é puxado, e o Dr. David
Vaitembora continua, cada vez com maior
dificuldade com os gritos e empurrões crescentes.
Dr.
David Vaitembora:
Of
course, there are snakes for all tastes, varying from really small to
giants that can measure almost 30 feet.
O
Dr. David Vaitembora é puxado, e tenta agarrar-se às plantas, mas
desliza pela folhagem abaixo. Até desaparecer completamente, só ficando
visível o chapéu, que vai abanando enquanto ele luta para se libertar,
indo no entanto continuar em breve a sua explicação, mas com
dificuldade, agravada pela chegada à cena de mais uma personagem, que
surge na imagem pela direita.
Nelo:
Ai, mulhere, eu cá não gosto de cobras. Aquelas grandes e grossas.. até me arrepia só de pensar nisso!! A entrarem em buracos escuros... (pequena pausa enquanto imagina, sorrindo disfarçadamente) E as gibáias?! Essas é que são!! Enrolam-se-nos e não nos podemos mexer. E comem-nos assim mesmo, com roupa e tudo. Engolem tudinho. (vai fazendo os gestos habituais nele)
O
Dr. David Vaitembora consegue por momentos levantar-se um pouco (não
totalmente), e continua a explicação.
Dr.
David Vaitembora:
Also
the colour can vary a lot. They have a whole range of colours, from red to
green, and from white to completely black. This also depends of the
weather and region of the globe they live in, like South America or Africa.
O
Dr. David Vaitembora apanha nova cacetada e desliza mais uma vez pela
planta até desaparecer completamente, depois de muito abanar a folhagem.
Nelo:
Em
Africa é que é!! Eu não sei, mas já me contaram que há lá cada
bicha.. uma maior que outra!! Adeve de ser do calor! Com a tempuratura e a
midade, aquilo adeve de crescer!!
Mais
uma vez, o Dr. David Vaitembora
ergue-se um pouco.
Dr.
David Vaitembora:
Hands?!
What the hell are you talking about??!! Snakes don’t have hands!!
Nelo
comprometido, tenta desconversar e desvia o olhar para o grupo ainda à
pancada (sempre fora da imagem).
Nelo:
Olha
aquele senhor! Tadito! Acho que tá a nessitar dajuda. Coitado, tá de
gatas e não se consegue alevantar!
Nelo,
vendo “oportunidade”, dirige-se lá (aproveitando para sair do buraco
onde se tinha metido), e ouve-se seguidamente o que ele vai fazer.
Diácono
Remédios:
Muito
obrigado pela ajuda. Finalmente um bom samaritano! Estes filh... da put..
de merd.. não são bons católicos. Não têm educação nenhuma!!
Surge
finalmente a última personagem, numa aparição fugaz. Entra numa
desportiva no enquadramento o drogado e arrumador de carros Zé Chunga (pelo lado
esquerdo), com o estilo habitual, fungando abundantemente, mas não
olhando para a camara. Ele não está interessado na camara, e toda a
atenção dele dirige-se para o grupo, que fica a observar.
Zé Chunga:
Mas o que é que se passa aqui?!
Já
nem se pode gamar umas coisas em paz? (fica surpreendido com o que se
passa) Ahh?!! Atão há pancada, e ninguém me tinha dito
nada, pá?
Surge
mais uma vez, o incansável Dr. David
Vaitembora (do lado esquerdo),
agarrando-se às suas inseparáveis plantas. Recomeça a sua explicação enquanto Zé
Chunga vai gritando bocas e impropérios variados, mas continuando no lado
direito da imagem, servindo de tema ao botânico.
Dr.
David Vaitembora:
This, my friends, is a very special specimen. In the modern age, it’s a species that lives all over the world, feeding itself mostly of music. (pequena pausa) More exactly car radios. We can easily spot them in the middle of a crowd, just by using our nose.
O Dr. David Vaitembora faz cara de quem acabou de se aperceber do aromático "perfume" corporal de Zé Chunga.
Entretanto
Zé Chunga, depois de muitos gestos e provocações (sempre acompanhados
de muitas comichões em várias partes do corpo, que ele coça
despreocupadamente), decide-se e desaparece da imagem em direcção ao
grupo, ouvindo-se o mesmo a distribuir (e receber) murros e pontapés.
Dr.
David Vaitembora:
It
can become quite unstable and dangerous, and sometimes when teased he
could be very
violent.
Pancadaria espalha-se e Dr. David Vaitembora é atingido por alguém de costas, talvez Zé Chunga (obviamente alguém vestido com as roupas dele). Desaparecem os dois da imagem e só fica no enquadramento a parte superior das plantas, que passado uns segundos terminam de abanar, continuando no entanto o som da pancadaria no ar, que parece prolongar-se por muito tempo, com todas as personagens a trocarem galhardetes (e não só!).
Lento
Fade-out.
Conclusão
provisória.
Fade-in.
Vemos
Adão e Eva com umas trouxas às costas, afastando-se do local onde estava
a macieira (que fica na direcção oposta).
Eva
fala (quase grita) com Adão, que vai calado e cabisbaixo. A caminhada é
interrompida por um narrador/repórter (que não é visível na imagem).
Narrador/Repórter:
Desculpem,
posso interrompê-los?
Adão
e Eva páram, e voltam-se para a camara. Eva não está muito satisfeita.
Narrador/Repórter:
Têm
algum comentário a fazer? Senhora Dona Eva, parece que isto não vos
correu muito bem Não parece muito satisfeita...
Eva:
(com voz irritada e agastada, mascando uma pastilha elástica)
Pois não, pá! Aqui este imprestável não durou nem dois minutos. Assim uma mulher não se orienta, pá!
Narrador/Repórter:
Ah?
Mas...Mas... Não, o que eu queria dizer era: como se sentem por
ter sido expulsos do Paraíso?
Eva:
Expulsos?!
Mas ninguém foi expulso de lado nenhum!
Narrador/Repórter:
Não?!
Mas então,... está escrito!!...
Eva:
Escrito?
O que é isso?!! (continua sempre com a pastilha)
Narrador/Repórter:
Bem,
a escrita é... não interessa. Mas então porque é que se vão embora do
Paraíso?
Eva:
Estás
a brincar, pá?! Não tens ouvidos? Quem é que pode viver aqui com este
basqueiro (ou chinfrineira)??!!!
Narrador/Repórter:
Ah,
bom! É que pensei que se tinham ido embora porque Deus os tinha expulso.
Eva:
Tínhamos
ido embora???!! ESTAMOS a ir!! Oh pá, eu até posso não saber o que é isso da escrita,
mas ao menos sei conjugar os tempos verbais!!! (olha para o repórter com
olhar de desdém)
Vira-se
para Adão.
Eva:
Olha bem pra isto, pá! (aponta para Adão) Não tens vergonha? Não serves pra nada!!
Narrador/Repórter:
Mas.. Se não se importa...
Sem deixar o repórter dizer mais nada, vira-se, dá um pontapé no Adão e continuam o seu caminho.
Eva:
Vamos
embora, ó estúpido. Estás à espera de quê?!
Adão vai na frente, tentando abstrair-se das palavras (e insultos) da Eva.
Afastam-se, sempre com Eva criticando e falando incessantemente.
Imagem mantém-se neles durante mais uns segundos, enquanto se afastam, e o som de Eva a gritar também diminui.
Fade out
Ecrã
negro.
Surge
o Prof. Herman José Saraiva, cambaleando, com um olho pisado e roupa algo
rasgada, e com camisola torta. A voz não é tão decidida como
habitualmente, pois está cansado, e vai olhando disfarçadamente para o
lado, para ver se aparece alguém, para mais “interrupções”.
Prof.
Herman:
Meus
amigos... (engole em seco) ... a vida de estoriador é mais movimentada do
que os senhores telespectadores imaginam. E bem mais do que eu gostaria.
Quando
o Prof. tenta levantar os braços no seu gesto característico, solta um
pequeno esgar de dor.
Prof.
Herman:
...e
até doloroso! Mas voltemos à nossa estória... antes que apareça por
aqui mais algum louco deturpador da verdade.
Esta
última frase é proferida de forma mais rápida e com um volume sonoro
inferior.
Olha
desconfiadamente e de forma rápida em sua volta.
Prof.
Herman:
Pois
como vimos... Adão e Eva afinal não foram expulsos do Paraíso, tiveram
foi que vir embora porque realmente o ambiente por lá não era dos
melhores. Posso assegurar-vos que era quase tão mau como o Bairro Alto ou
a Avenida 24 de Julho ao fim de semana à noite, mas sem a música.
Prof.
Herman:
Ora
bem, gostava de vos poder dizer que depois disto, viveram felizes para
sempre, mas realmente não foi bem assim. Vamos ver.
Prof.
Herman passa a narrar em voz off, ou em alternativa faz a introdução
descrevendo a situação, e depois retira-se suavemente para se assistir
à continuação do desenrolar da história, enquanto ele faz a narração.
Por detrás dele vê-se uma outra floresta. A imagem deve abarcar o
maior largura possível (talvez 10 metros, para a cena seguinte
resultar em pleno).
(Nesta seguinte sucessão rápida de cenas que se seguem, que dura cerca de um a dois minutos, as personagens vão dizendo pequeníssimas frases e sons de chamamento que se coadunam com as situações, que aqui no entanto omito, de modo a não me prolongar na explicação)
(as movimentações dos personagens estão graficamente representadas a vermelho)
Prof.
Herman:
Infelizmente o defeito de fabrico da Eva, ainda se tornou pior quando saíram do Paraíso.
»»»»»»
Vemos Eva a correr 2 metros atrás de Adão, que cobre desesperadamente os ouvidos com as mãos, tentando evitar a tortura sonora.
Atravessam o ecrã da esquerda para a direita, desaparecendo do enquadramento.
Prof.
Herman:
Por
seu lado, Adão tinha pouco com que se entreter. Ainda não tinha sido
inventada a televisão!
««««««
Vemos Adão a correr 2 metros atrás de Eva, que tenta cobrir o corpo, enquanto ele a persegue com olhar libidinoso.
Atravessam o ecrã da direita para a esquerda, desaparecendo do enquadramento.
Prof.
Herman:
E
assim nasceu o primeiro filho de Adão e Eva. Era Abel... que infelizmente
herdou os
dotes vocais da mãe.
»»»»»»
Vemos Eva, agora com o filho nos braços, a correr 2 metros atrás de Adão, que cobre desesperadamente os ouvidos, tentando não ouvir Eva a falar, e o filho a berrar.
Atravessam o ecrã da esquerda para a direita, desaparecendo do enquadramento.
Prof.
Herman:
Adão
no entanto tinha a memória curta. E claro, continuávamos sem inventar a
televisão.
««««««
Vemos novamente Adão a correr 2 metros atrás de Eva, que tenta cobrir o corpo, enquanto ele mais uma vez a persegue com olhar libidinoso.
Atravessam o ecrã da direita para a esquerda, desaparecendo do enquadramento.
Prof.
Herman:
E
então nasceu Caim.
»»»»»»
Vemos Eva, agora com um filho nos braços, outro pela mão (ou em alternativa, um em cada braço), a correr 2 metros atrás de Adão, que cobre (outra vez!) desesperadamente os ouvidos, tentando não ouvir Eva a falar, e os dois filhos a berrar.
Prof.
Herman:
Com
tudo isto, Adão resolveu ir comprar cigarros ao quiosque da esquina.
[][][][][][]
Eva
surge com os dois filhos, e senta-se no meio do enquadramento.
Prof.
Herman:
Acontece
que naqueles tempos não havia quiosques, nem sequer cigarros...
[][][][][][]
Eva
continua sentada à espera.
Prof.
Herman:
...Adão
fartou-se de procurar, mas perdeu-se no caminho e nunca mais apareceu.
[][][][][][]
Eva
ainda sentada, cada vez mais triste.
Prof.
Herman:
Foi
este o começo do célebre esquema, mais tarde muito utilizado: ir comprar
cigarros, e depois nunca mais aparecer!!!
Eva
levanta-se, pega nos filhos, e afasta-se do centro do enquadramento.
Fade-out.
Conclusão
provisória.
Personagens (da Parte V):
- Adão (Herman José)
- Eva (Maria Rueff)
- Abel (Herman José)
- Caim (Joaquim Monchique)
Fade-in.
Prof.
Herman José Saraiva continua a sua narração.
Prof.
Herman:
E
assim cresceu esta primeira família. Adão apareceu passado muito tempo, depois da sua longa,
mas infrutífera busca por um maço de cigarros, proporcionando um felicíssimo
reencontro.
Vemos
o reencontro de Adão e Eva.
Na
imagem, Adão chega de frente para a camara, Eva corre para ele muito
feliz (talvez com os filhos ao colo). Eva abraça-se a Adão e filhos
(agora já com alguns anos de idade) agarram-se às duas pernas dele. A
camara faz um zoom até
à cara de Adão, que mostra uma cara muito entediada, e de completo
aborrecimento por ter de os voltar a aturar novamente.
A esta cena o Prof. Herman faz um comentário muito(?) adequado.
Prof.
Herman:
È o amor paternal na mais pura das manifestações, meus amigos.
Muda
o enquadramento.
Vemos
novamente a floresta (plano com cerca de 5 a 6 metros de largura).
(Nesta outra sucessão rápida de cenas que se seguem, que dura também cerca de dois minutos, as personagens vão dizendo pequeníssimas frases e sons de chamamento que se coadunam com as situações, que aqui mais uma vez omito, de modo a não me prolongar na explicação)
(as movimentações dos personagens estão graficamente representadas a vermelho)
Prof.
Herman:
E
viveram muitos anos de felicidade. O pai dava-se bem com a mãe...
»»»»»»
Vemos
Adão a correr e a bater (dando murros e pontapés) na Eva.
Passa
na imagem da esquerda para a direita.
Prof.
Herman:
...dava-se
bem com os filhos...
»»»»»»
Vemos
Adão a bater (dando murros e pontapés) nos filhos.
(nesta
imagem, uma vez que Adão e Abel são representados pelo mesmo actor, no
enquadramento vemos os dois filhos a “correr” abaixados, simulando a
sua fase infantil, com recurso a uma adaptação de Abel à conhecida
personagem Nelito. Do pai deles, Adão, apenas vemos o corpo do pescoço
para baixo)
Adão
corre atrás deles vociferando.
Prof.
Herman:
...dava-se
bem com todas as criaturas
»»»»»»
Vemos
Adão a correr atrás de uma ovelha ou cabra (apenas se vê na imagem a
parte de cima do animal).
Passa
na imagem da esquerda para a direita.
Prof.
Herman:
...e Abel também se dava bem com Caim...
»»»»»»
Vemos
o filho, Abel, a correr e a bater (dando murros e pontapés) em Caim.
Passa
na imagem da esquerda para a direita.
Caim:
Caim,...
caim,... caim... (diz ganindo baixinho)
Prof.
Herman:
...e
graças à sua herança genética, também se dava bem com todas as outras criaturas de Deus.
»»»»»»
Vemos
Abel a correr atrás de uma ovelha ou cabra (apenas se vê na imagem a
parte de cima do animal).
Passa
na imagem da esquerda para a direita.
Prof.
Herman:
E os anos passaram a correr, ou pelo menos com eles a correrem uns atrás dos outros.
Reaparece
o Prof. Herman José Saraiva na imagem.
Prof. Herman:
Ora meus amigos, acontece que este é justamente um dos pontos mais obscuros e desconhecidos desta nossa estória.
Foi
exactamente aqui, que La Fontaine se inspirou para criar a sua famosa fábula
da Formiga e da Cigarra
O
Prof. Herman retira-se do enquadramento, para dar lugar à próxima cena.
Prof. Herman:
Caim
cresceu e fez-se lavrador, trabalhando arduamente a terra, labutando de
sol a sol, de forma incansável.
Imagem
mostrando Caim cavando o campo, suando abundantemente, com um aspecto
humilde.
Prof.
Herman:
...enquanto
que Abel se tornou pastor, como aliás poderia indicar o seu precoce
interesse pelos animais. Vivia uma alegre e calma vida, apascentando suas
queridas cabrinhas, e ocupando todo o seu tempo cantando
despreocupadamente, sem pensar no dia de amanhâ,...
Imagem
mostra Abel, com um cajado na mão, mas com um aspecto quase boémio,
cantando muito desafinadamente (talvez um pequeno excerto de um fado).
Prof.
Herman:
Ora
acontece que Abel, que entretanto melhorara os seus já muito
desenvolvidos dotes vocais, estava cheio de razão, porque embora sem o
saber, não viveria para ver esse amanhã!
Vemos
em background Caim a entrar em desespero, depois de tantas cantorias do
irmão.
Prof.
Herman:
Terminaria
de forma trágica e prematura, aquela que poderia ser uma grande carreira
musical. Ficaria conhecido para a posteridade, em homenagem ao seu rebanho
como: “Abel Cabra”.
Vê-se
e ouve-se Abel (Herman, com o seu jeito para esta música em especial),
cantando a plenos pulmões o refrão duma famosa música:
Abel
Cabra:
“São
lágrimas. São lágrimas. São lágrimas escorrendo do meu rosto.”
Prof.
Herman:
Senhores
telespectadores,... foram realmente lágrimas. O seu irmão Caim não conseguiu suportar esta
terrível tortura, e num gesto de humanidade perfeitamente compreensível,
acabou com este tormento.
Vemos
Caim surgir por detrás de Abel, e com um certeiro golpe acerta-lhe na
cabeça (com uma moca tipo Homem das Cavernas)
Abel
cai e sai do enquadramento. Continua por momentos a cantar,
transformando-se rapidamente em gritos, até se calar definitivamente.
Caim, mesmo com Abel fora do enquadramento, continua a bater-lhe (na direcção
do chão) até ele se calar, e durante mais alguns segundos depois disso.
Abel
Cabra:
“São
lágrimas. AI!!.. São lágrimas. AAIIII!!... São lágrimas escorrendo do
meu rosto.” ......
Prof.
Herman:
. mas quem o pode censurar?! Não é possível alguém aguentar aquela voz por muito tempo. E ainda bem que o fez, meus amigos, porque senão quem sabe até onde chegaria Abel Cabra? A gravar discos? Ou quem sabe, até a aparecer em programas de televisão? Dúvidas que felizmente nunca veremos respondidas.
Caim pára, depois de muito bater em Abel, começando a aperceber-se do que acabou de fazer. Baixa a moca, e depois leva as mãos à cabeça, no entanto mantendo a moca numa das mãos.
Caim (Joaquim Monchique) faz a
sua imitação de Manuel Subtil fechado na casa de banho da RTP, gritando desesperado.
Caim:
Ai
Jesus!! Ai Jesus!! Ai meu Deus!!! Ai Jesus!!!!...
Prof.
Herman:
Mas agora já era tarde, o mal já estava feito, meus amigos.
Caim
continua a sua gritaria, mas vai-se afastando até desaparecer do lado
direito da imagem.
O Prof. Herman José Saraiva volta a aparecer no enquadramento.
Prof.
Herman:
Caim ainda
tentou refugar-se numa casa de banho de alguma estação pública de
televisão, mas nesta altura continuávamos ainda sem inventar a maldita
da televisão!!
Por isso, teve que se ir embora, plantar batatas para outro lado. A
culpa de todos os males do mundo é pois da televisão!
Começamos a ouvir Caim a aproximar-se, continuando com a gritaria.
O Prof Herman vai olhando de soslaio para a direita da imagem, mas continua a explicação, ainda que hesitante.
...E foi assim. Caim foi enlouquecido pela voz do irmão Abel,... e tornou-se o primeiro homicida da História. Na verdade...
Caim reaparece no lado direito da imagem, de moca em punho, por detrás do Prof. Herman. Olha-o de maneira a que o espectador antecipe o que vai acontecer.
...só não se tornou um serial killer porque por esta altura já Adão e Eva tinham fugido para bem longe. Foram comprar cigarros!! Claro que se alguém estivesse por perto, teria o mesmo destino...
O Prof. Herman não termina a frase, porque Caim dá-lhe uma grande mocada. No entanto não é visível o momento do impacto. Aparece um ecrã negro, onde se lê:
CENSURADO
Ouvem-se as pancadas da moca, juntamente com os gritos do Prof. Herman. Aparece o ecrã:
ESTORIADOR EM SOFRIMENTO
E ouvem-se as vozes das duas personagens:
Prof. Herman:
Ai meu Deus! AI!! Ai Jesus!! AI!!!...
Caim:
Ai
Jesus!! Ai Jesus!! Ai meu Deus!!! Ai Jesus!!!!...
Fade-out.
Conclusão
provisória.
Personagens (da Parte VI):
- Abel (Herman José)
- Caim (Joaquim Monchique)
- Diácono Remédios (Herman José)
- Esteves (Herman José)
- Serpente Vermelha (Ana Bola)
Fade-in.
Reaparece do lado direito do enquadramento, com a face muito próxima da camara, afastando-se depois progressivamente, o Diácono Remédios.
Diácono
Remédios:
Meus
amigos... tsss... Meus amigos... Não havia necessidade.
Enquanto
o Diácono se afasta, reparamos que ele tenta apressadamente ajeitar a
roupa, sobretudo as calças, que traz todas desabotoadas, por razões
“desconhecidas”.
Diácono
Remédios:
Não devemos invocar o nome do Senhor sem necessidade! (refere-se aos gritos do Prof. Herman, que grita pela ajuda de Deus) Ai meu Deus! Meu Deus! (invoca o Diácono, suspirando, aparentemente com razão)
Por
fim, cessamos de ouvir as outras duas personagens.
Diácono
Remédios:
Vedes!?
Vedes!? É o que acontece a quem não fala a verdade! Claro que todos
sabem que as coisas não se passaram assim. Não foi por causa de
cantorias que Caim matou Abel. Não,... mas tende atenção, não pequeis,
porque senão ides para o Inferno, e tendes de ouvir aquela música para
toda a eternidade!! Eh... mm... (riso contido característico)
O Diácono recupera a compostura, e reaparece a floresta em background. Retornamos atrás no tempo e o Diácono apresenta pela segunda vez a sua verdade, saindo de imagem (vemos a floresta com um plano com cerca de 5 a 6 metros de largura).
Aqui
é fulcral o paralelismo com a cena inicial do sketch, com as histórias
das serpentes. Vital que o espectador se aperceba da repetição do
esquema, para dar maior impacto.
(Nesta outra sucessão rápida de cenas que se seguem, que dura cerca de um minuto, as personagens vão dizendo pequeníssimas frases e sons de chamamento que se coadunam com as situações, que aqui mais uma vez omito, de modo a não me prolongar na explicação)
(as movimentações dos personagens estão graficamente representadas a vermelho)
Diácono Remédios:
Esta nossa primeira família viveu muitos anos de felicidade. O pai dava-se bem com a mãe...
»»»»»»
Vemos Adão a correr e a bater (dando murros e pontapés) na Eva.
Passa na imagem da esquerda para a direita.
...dava-se bem com os filhos...
»»»»»»
Vemos Adão a bater (dando murros e pontapés) nos filhos.
(nesta imagem, uma vez que Adão e Abel são representados pelo mesmo actor, no enquadramento vemos os dois filhos a “correr” abaixados, simulando a sua fase infantil, com recurso a uma adaptação de Abel à conhecida personagem Nelito. Do pai deles, Adão, apenas vemos o corpo do pescoço para baixo)
Adão corre atrás deles vociferando.
...dava-se bem com todas as criaturas ...
»»»»»»
Vemos Adão a correr atrás de uma ovelha ou cabra (apenas se vê na imagem a parte de cima do animal).
Passa na imagem da esquerda para a direita.
...e
Abel
também se dava bem com Caim...
»»»»»»
Vemos o filho, Abel, a correr e a bater (dando murros e pontapés) em Caim.
Passa na imagem da esquerda para a direita.
Caim:
Caim,... caim,... caim... (diz ganindo baixinho)
...e com todas as outras criaturas de Deus.
»»»»»»
Vemos Abel a correr atrás de uma ovelha ou cabra (apenas se vê na imagem a parte de cima do animal).
Passa na imagem da esquerda para a direita.
Reaparece
o Diácono
muito aflito e surpreendido na imagem, quando vemos em background Abel a
tentar agarrar uma ovelha. Aproxima-se da camara e tenta com o corpo tapar
a cena que se passa atrás dele, abafando também o som.
Diácono
Remédios:
Mas...
Mas... Isto não foi assim... Meus amigos... Mas que pouca vergonha!...
Olha para trás para se certificar que já não está lá ninguém, e continua a explicação.
Diácono
Remédios:
Mas
voltando à nossa história, os anos passaram a correr.
O
Diácono volta a retirar-se de cena, ainda que a medo, e não totalmente
recomposto do que lhe acabou de acontecer.
Diácono
Remédios:
Caim
cresceu e fez-se lavrador, trabalhando arduamente a terra, labutando de
sol a sol, de forma incansável.
Imagem
mostrando Caim cavando o campo, suando abundantemente, com um aspecto
humilde.
Diácono Remédios:
...enquanto
que Abel se tornou pastor. Vivia uma alegre e calma vida, apascentando
suas queridas cabrinhas, e ocupando todo o seu tempo cantando
despreocupadamente, sem pensar no dia de amanhâ,...
Imagem
mostra Abel, com um cajado na mão, mas com um aspecto quase boémio,
cantando muito desafinadamente (talvez um pequeno excerto de um fado).
Diácono
Remédios:
Ora acontece que Abel, que inocentemente se dedicava ao seu rebanho... não podia imaginar que não viveria para ver esse amanhã! Caim acabaria por o matar, mas foi por causa das más companhias... Sim, porque a verdade é que a maldita Serpente Vermelha andava por ali a rondar. Os com... os comum... os vermelhos andam sempre a espalhar o veneno.
Vemos
Caim a cavar, com aspecto esforçado e cansado, enquanto que em segundo
plano vê-se Abel a brincar, andando de um lado para o outro, trauteando e
assobiando.
Surge ao lado de Caim, a Serpente Vermelha, de olhar maléfico, que entabula conversa com ele.
Caim, tem a personalidade e modos de falar de um matarruano.
Serpente Vermelha:
Olá!
Caim:
Olá,
animal desconhecido! Quem és tu?
Serpente
Vermelha:
Não
me conheces? Ah!... Ainda bem!
Caim:
Ainda
bem? Mas...
Serpente
Vermelha:
Não,
o que eu queria dizer era... sou tua amiga! Podes confiar em mim!
Ouvimos agora em off, uma troca de palavras entre duas personagens.
Esteves:
Olha,
olha! Confiar! Nunca se debe confiar em alguém de vermelho. Só nos de
azul, e nos de preto, quando estão comprados!
Diácono Remédios:
Mas...
Outra vez?! Uma alma cristã já não pode conter uma m... duma história
sem ser interrompido por algum fil.. d. p...?!!
Esteves:
Oh..
Cum carago...
Ouve-se Diácono a bater no Esteves e expulsá-lo dali.
Entretanto a Serpente Vermelha e Caim pararam a conversa, e estão a olhar para a camara fixamente, aguardando que aquela conversa paralela termine.
Caim:
Atão?
È pra oije??!! Um homem assim não se orienta!! Já nem se pode trabalhar
em paz, ou quê?!
Caim
de seguida, readquire a sua postura humilde e sofrida, retomando o
trabalho. A Serpente Vermelha posiciona-se como o típico sindicalista,
tentando recrutar novos membros.
Serpente Vermelha:
Pois
é! Já ninguém respeita os trabalhadores. Olha bem pra ti!!
Caim:
Para mim?! O que tenho?!
Serpente
Vermelha:
Ora
exactamente! Não tens nada!!
Caim:
Mas
o que raio é que eu havia de ter?! Nesta época não há nada!
Serpente
Vermelha:
Pois
não, mas vai haver! Já viste que estás aqui a ser explorado? Tu és a
classe trabalhadora! E estás a ser explorado pela burguesia!
Caim:
Burguesia?!
O que é isso!?
Serpente
Vermelha:
Olha,
tu trabalhas, e não ganhas nada! O teu irmão não faz nada, passa o dia
a apanhar banhos de sol e a cantar de galo!
Caim:
A
cantar de galo? Isso eu não sabia! Pensava que só fazia de vez em quando
uma cantada a uma ovelhita...
Serpente
Vermelha:
Ah!...
Arre que és mesmo burro! Eu explico-te...
Inverte-se o enquadramento. Vemos em primeiro plano Abel, deitado ao sol, de óculos escuros, a trautear (ou a assobiar) uma música, e em segundo plano, Caim com a Serpente Vermelha a “evangelizá-lo” com a teoria comunista.
Assiste-se
ao longe a Caim a ficar cada vez mais revoltado, vai buscar uma moca, e
dirigindo-se a Abel surpreendendo-o de costas e proferindo apenas no último
momento, e antes da mocada, umas poucas palavras.
Caim:
Burguês!!
Explorador!! Desgraçado!!
Fade-out.
Ecrã negro.
Reaparece o Diácono Remédios, desta vez realmente para a conclusão.
E esta, meus amigos, tss... è a verdadeira história de Adão e Eva, de Abel e Caim, e em como a culpa de tudo o que de mal existe no mundo, é culpa dos com... comun... istas, cof, cof,... dos malvados vermelhos.
Ide. Ide, e meditai sobre isto. ou quereis ir para o Inferno ouvir aquela música para todo o sempre?!!
Fade-out.
Genérico final.
FIM
(ou talvez não)